domingo, 21 de julho de 2019

23.


Acordar todo dia às 6h, tomar um café apressado, seguir para o trabalho, enfrentando o ainda leve congestionamento de Brasília, se comparado ao das outras capitais do Brasil. Ler as notícias, resolver questões burocráticas a pedido do chefe, gastar um tempo na internet, calcular se o dinheiro vai dar até o fim do mês. Almoçar correndo em um self-service barato. Passar mais uma tarde em frente ao computador. O leve congestionamento se repete na volta e você chega em casa cansado de um dia como outro qualquer. Conversa trivialidades com o cônjuge. Não dá muita atenção para o que as crianças falam. Lava a louça do jantar e senta para ver um pouco de televisão antes de dormir. É mais ou menos assim a rotina da maior parte das pessoas. Claro que as lacunas se completam com os mais diversos interesses e obrigações, com histórias de vida bem distintas. O que pretendo dizer é que, na maior parte do tempo, não damos muita atenção para o que acontece ao nosso redor. Imersos em nossas atividades cotidianas, dificilmente dispensamos um olhar mais cuidadoso para o que nos cerca. E quando digo isso, não me refiro somente ao hábito de manter momentos contemplativos, mas sim, ao ato de realmente fazer algum esforço de compreensão mais profundo da realidade, de conseguir desnaturalizar o nosso dia a dia e perceber que mesmo os atos mais banais refletem as estruturas sociais a culturais em que estamos imersos.

É preciso entender que o cotidiano não é um refúgio da história, mas sim parte
integrante dela. É no passar lento e gradual dos dias que conseguimos realmente visualizar as consequências dos grandes acontecimentos para a humanidade, caracterizar uma época e entender um pouco mais dos homens e mulheres que viveram (ou vivem) nela. Afinal, se formos parar para pensar, a maior parte de nossas vidas são compostas por atividades comuns. 

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