domingo, 6 de dezembro de 2015

Charles Baudelaire

 

o pintor da vida moderna

Quando, enfim, encontrei-o, vi imediatamente que me defrontava não exatamente com um artista, mas, antes, com um homem do mundo. Entendam aqui, suplico-lhes, a palavra artista num sentido muito restrito, e a expressão homem do mundo num sentido amplo. Homem do mundo, isto é, homem do mundo inteiro, homem que compreende o mundo e as razões misteriosas e legítimas de todos os seus usos; artista, isto é, especialista, homem preso à sua palheta como o servo à sua gleba. O Sr. G. não gosta de ser chamado de artista. Não tem ele um pouco de razão? Ele se interessa pelo mundo inteiro; quer saber, compreender, apreciar tudo o que se passa na superfície de nosso esferóide. O artista vive muito pouco, ou mesmo nada, no mundo moral e político. O que mora no quartier Breda ignora o que se passa no faubourg Saint-Germain. Salvo dias ou três exceções que não vale a pena mencionar, os artistas, em sua maioria, são, é preciso dizê-lo, uns brutos muito hábeis, simples trabalhadores braçais, inteligências interioranas, mentalidades de arrebalde. sua fala, forçosamente limitada a um círculo bastante estreito, torna-se muito rapidamente insuportável para o homem do mundo, para o cidadão espiritual do universo. 
Assim, para chegar a compreender o Sr. G., tomem imediatamente nota disso: a curiosidade pode ser considerada como o ponto de partida de seu gênio.