Sou apenas um de vossos
mais humildes monges,
fitando de minha cela a
vida lá fora,
das pessoas mais
distante que das coisas
…
Não me julgueis
presunçoso se digo:
Ninguém realmente vive
sua vida.
As pessoas são
acidentes, vozes, fragmentos,
medos, banalidades,
muita alegria miúda,
já crianças, envoltas
em dissimulação,
quando adultas,
máscaras; como rostos – mudas.
Penso muita vez: deve
haver tesouros
onde se armazenam todas
essas muitas vidas,
como armaduras ou
liteiras, berços
que nunca portaram
alguém francamente real,
vidas qual roupas
vazias que não se sustentam
de pé e, despencando,
agarram-se
às sólidas paredes de
pedra abobadada.
E quando à noite
vagueio
fora de meu jardim,
imerso em tédio,
sei que os caminhos
todos que se estendem
levam ao arsenal de
coisas não vividas.
Não há árvore ali,
como se a terra se guardasse
e como ao redor da
prisão ergue-se o muro,
sem janela alguma, em
seu sétuplo anel.
E seus portões, de
trancas de ferro,
que repelem os que
querem passar,
têm suas grades todas
feitas por mãos humanas.