terça-feira, 2 de setembro de 2014

15.



não é pressa, é saudade – a carta dele pra ela

Brasília, 12 de abril de 2015. 

Meu bem,

a distância ainda não me ensinou a te chamar de outro jeito. Te conheço há apenas dois meses. Na verdade, não estivemos juntos mais do que dez... doze dias e já não existem palavras que definam melhor o que tu és para mim: meu bem, meu amor, mi cariño. 

Fevereiro está longe. Março me acordou com saudades todos os dias de manhã. Começou abril e eu não me esqueço o encaixe perfeito do teu beijo. Não esqueço os rodopios e gargalhadas que nos acompanhavam a cada bloquinho de carnaval. A purpurina que saía dos nossos corpos para os seus lençóis. O nosso baile particular, em que canção nenhuma era mais alta do que os segredos que eu sussurrava em seu ouvido. 

A sua cidade me entrando pelos poros junto contigo. Aquele cenário próprio, composto de um bougainville roxo vivo, beijos de beija-flor e visitas de zangões, que assistíamos todos os dias da janela da sua casa. A ladeira em que você apostava corrida com sua antiga amiga e na qual, espertamente, você me propôs o mesmo desafio. E que, é claro, eu perdi. Você já tinha um fôlego de toda uma vida ali. A padaria onde seu pai te levava para comer aquele misto quente (com tomate, por favor) e o chocolate bem forte. O banquinho onde deu o seu primeiro beijo (e onde e eu te enchi de muitos outros). A maneira como você segurou o meu braço, cheio de um carinho não mais passageiro, e me contou que à noite, as coisas mudam de lugar. 

Faço essa proposta cheio de medo. Sei que você se lembra de muito, mas não sei o quanto você esquece. E não sei se o que esquece já é o suficiente para deixar tudo para lá. Sem contar que memória é alívio apenas presumido. Não sei se dela nasce também a vontade de me rever. E mesmo que queiras, fica a dúvida: será que minha cidade vai nos receber tão bem quanto a sua? Mas para mim, o desafio é novamente irresistível. Eu quero ver você aqui. Quero mostrar que o meu cotidiano também é cheio de coisas infinitamente grandes e de coisas infinitamente pequenas.

Pense e repense no meu convite com o mesmo carinho que embalou nosso carnaval. Saiba que não espero. Mas leve a certeza de que tenho esperança. O radical é o mesmo. O que muda é a forma como se encara a vida. O primeiro termo sugere estagnação. O segundo é uma história que segue. O futuro saberá o que fazer da gente. Não ache que estou sendo precipitado. Não é pressa. É só saudade.

um beijo quente do teu pierrô.