segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Cezar Migliorin



inevitavelmente cinema

Uma das marcas da reflexão de Rancière sobre a educação é a sua ênfase no fato de que a emancipação não está no futuro, mas na cena presente; é menos um projeto que uma prática. A igualdade não é algo que se alcançará no fim de um processo, nem está submetida a um projeto e a relações  de causa e efeito. A cena igualitária de Amiro, por exemplo, está justamente na forma como o professor e os elementos não-humanos da experiência do menino podem habitar a mesma construção do conhecimento e o mesmo processo subjetivo. [...] Nas palavras de Rancière "A igualdade jamais vem após, como resultado a ser atingido. Ela deve ser colocada antes."

Trazemos a noção de emancipação por entendermos que a possibilidade de criação na educação e, consequentemente, de uma aproximação sensível com a diferença, passa por uma perturbação das separações que fazem do estudante um sujeito sem mundo ou desejo e um receptor de um universo que se repete em seu intelecto e corpo. Para que essa repetição se efetive é preciso criar o estudante como o ignorante do grupo. A emancipação, ao contrário, é essencial para que qualquer ação que tenha o direito do outro como algo central se estabeleça. No caso da escola, a cena igualitária está aberta à presença do que estudantes podem trazer de seus mundos, aos gostos dos professores e urgências da comunidade. Entretanto, é na cena igualitária que aparecem as desarmonias, as diferenças entre as formas de ver, dizer e sentir que estavam dadas em uma unidade. A igualdade é a possibilidade do desequilíbrio e do desajuste da comunidade. Processo dialetizante em que a mobilidade da comunidade é necessária para que a presença de qualquer sujeito faça a diferença no que é a comunidade. A igualdade não se confunde assim com uma homogeneidade entre diferentes, mas com deslocamentos sensíveis entre diferentes afetando o espaço comum e as formas de ser e sentir de cada um.

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