terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Milan Kundera conversa com Philip Roth



um romance não afirma nada; ele busca questões. não sei se minha nação vai morrer e não sei qual dos meus personagens tem razão. eu invento histórias, ponho uma em confronto com a outra, e dessa maneira faço perguntas. a burrice das pessoas vem de elas terem uma resposta para tudo. a sabedoria do romance vem de ele ter uma pergunta para tudo. quando dom quixote saiu pelo mundo afora, esse mundo se transformou num mistério diante de seus olhos. é esse o legado que o primeiro romance europeu deixou para toda a história subsequente do romance. o romancista ensina o leitor a compreender o mundo como uma pergunta. nessa atitude há sabedoria e tolerância. num mundo baseado em certezas sacrossantas, o romance morre. o mundo totalitário - seja ele baseado em marx, no islã ou em qualquer outra coisa - é um mundo de respostas e não de perguntas. nesse mundo o romance não tem lugar. seja como for, creio que em todo mundo as pessoas hoje preferem julgar e não compreender, responder e não perguntar, de modo que a voz do romance é difícil de ouvir em meio a toda a tagarelice insensata das certezas humanas.

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