domingo, 29 de setembro de 2019

Carlos Drummond


mãos dadas

não serei o poeta de um mundo caduco.
também não cantarei o mundo futuro.
estou preso à vida e olho meus companheiros.
estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
entre eles, considero a enorme realidade.
o presente é tão grande, não nos afastemos.
não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
o tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

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