terça-feira, 28 de outubro de 2014

Jorge Luis Borges



the unending gift

um pintor nos prometeu um quadro.
agora, em new england, sei que morreu. senti,
como outras vezes, a tristeza de
compreender que somos como um sonho.
pensei no homem e no quadro perdidos.
(só os deuses podem prometer, porque são imortais.)
pensei num lugar prefixado que a tela não ocupará.
pensei depois: se estivesse aí, seria com o tempo
uma coisa a mais, uma das vaidades ou
hábitos da casa; agora é ilimitada,
incessante, capaz de qualquer forma 
qualquer cor e a ninguém vinculada.
existe de algum modo. viverá e crescerá como
uma música e estará comigo até o fim.
obrigado, Jorge Larco.
(também os homens podem prometer,
porque na promessa há algo imortal.)

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